Porque a vida são dois dias, e o Carnaval de Torres são seis, que devem ser vividos de forma muito intensa, mas já passaram, cá voltamos à pesca e aos relatos de pesca.
Na quarta feira, aproveitando o ultimo dia de férias escolares do meu petiz, fomos fazer uma pescaria, já que a vontade de pescar dele era muita e estava prometida uma ida ao mar, que para ele é sagrado, se está prometido tem que ser cumprido mesmo que as condições para pescar não sejam nenhumas, raio do miúdo é teimoso como uma mula, não sai nada ao pai!!! He he he....
Sem condições para pescar no mar, pois estava muito bravo, barrento e com muito vento, o que é que eu pensei, vamos à pesca, mas não vai ser no mar, vamos pescar enguias no o rio Sizandro, que passa na minha aldeia, leva bastante agua e está barrento, o ideal para esta pesca.
Foi uma pesca à moda antiga, como nunca tinha ido às enguias, mas sempre ouvi as explicações do meu pai e do meu avô, de como se fazia esta pesca, pus mãos à obra, ou seja na enxada e lá foi eu.
Primeiro era necessário apanhar uma boa quantidade de minhocas da terra, fui até uma zona parcialmente alagada e toca de cavar, em pouco tempo tinha uma bola de minhocas mais que suficiente.
Agora era só fazer o «remelhão», que consiste em colocar as minhocas com recurso a uma agulha, num fio de costura com aproximadamente 1,5mt, eu utilizei uma agulha de costura, mas se for com uma agulha de iscar minhocas é bem mais fácil, mas como não tinha a tropa manda desenrascar.
Depois de enfiadas todas as minhocas, da-se umas voltas à minhocada na mão e ata-se, num caniço atei um fio de pesca, com uma chumbada de 100grs, onde atei a minhocada à chumbada, agora era só levar uma bucha e irmos até ao rio.
Já no rio, era hora de escolher o pesqueiro, procuramos uma margem onde fizesse um fundo com pouca corrente e com condições para estarmos em segurança, levamos um chapéu de chuva, não é que tivesse com cara de chuva, mas este faz parte das artes desta pesca, fica aberto e espetado na berma do rio, funciona como camaroeiro.
Pescas na agua e esperar, de vez em quando levantar as pescas sempre para cima do chapéu, pois se vier alguma enguia agarrada ela cair lá dentro, mas delas nem sinal, ainda era cedo........ e sentados na margem do rio íamos conversando os dois, momentos importantes entre pai e filho, são estes momentos que fortalecem relações e nos fazem criar laços de amizade muito fortes.
As enguias teimavam em não dar sinal, mas para mim o dia estava a correr maravilhosamente, ouvir a agua a correr, os pássaros a cantar, as galinhas de agua a passarem assustadas de uma margem para a outra, faziam-me voltar uns anos atrás no tempo, em que eu menino passava grande parte das minhas férias no rio com amigos, a apanhar pássaros, caracóis e cágados entre outras bicharadas.
Mudamos de pesqueiro, andamos talvez uns 2 kms pela margem e lá encontramos um cantinho, e insistimos, a caminhada abriu o apetite, era hora de comer uma bucha para recuperar forças, meus amigos digo uma coisa, uma sandocha comida ali, ao ar livre em contacto com a natureza, é melhor que comer uma boa dose num bom restaurante, sem duvida nenhuma.
Depois de reconfortados, voltamos à pesca, sinto a cana tremelicar, será desta!!! Levanto devagar e era mesmo uma boa enguia, acabou por largar-se antes de entrar no chapéu, ora bolas, são poucas e mesmo assim não as apanho, entretanto o João perde também uma da mesma maneira, tínhamos de ser mais rápidos no momento de levantar a pesca de modo a caírem dentro do chapéu.
O dia caminhava para o fim e foi nessa altura que finalmente conseguimos apanhar algumas enguias, eu apanhei 3, e o João 1, talvez por haver menos claridade influenciou nas capturas, pois foram praticamente seguidas já que o resto do dia não sentimos nada.
Chegava a hora de ir para casa, estávamos satisfeitos com a jornada, pois o que estava na lata já dava para o jantar de 10, se 9 não comessem é claro, ha ha ha....Acabamos por devolve-las ao rio, mas foi sem duvida um dia muito bem passado, que vai ficar guardado na nossa memória.
Fico satisfeito por ver que a poluição no rio diminui bastante, quando era miúdo o rio estava bem mais poluído e com pouca vida, agora existe mais vida nas aguas o que é animador, é sinal que algumas coisas que tem sido bem feitas e o dinheiro gasto não foi em vão.
A Câmara Municipal e as entidades que gerem os recursos hídricos, que continuem pois estão no caminho certo, também temos de dar os parabéns quando vemos que merecem, não podemos só dizer mal.
Uma ultima nota, no final da pescaria seja no rio ou no mar, não esquecer de levar todo o lixo do pesqueiro, não custa nada e a natureza agradece.
Um abraço a todos e bons lances seja no mar ou em agua doce.